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Solange Maria Soccol

Sou Vêneta Brasileira, nascida e criada em Serafina Corrêa, Rio Grande do Sul, Brasil, onde os costumes são  riquíssimos  de um material indefinido e precioso de cultura e tradições levadas pelos nossos antepassados. Onde tudo o que vive, ensina o passado a se fazer memória. Onde os casos, atividades, situações, histórias, usos, costumes, religiosidade e exemplos são um patrimônio comum elaborado ao longo de 143 anos de Imigração  Italiana  que delinearam  os  contornos de uma sociedade que se apresenta aos olhos do mundo como um mosaico multicolorido de raças, e que, no entanto,  ocupa nitidamente a imagem viva e vivida de um passado que não é apenas lembrança ou melancolia, mas sim movimento, ação intelectual, resgate, respeito e identidade.
O passado é presente e é futuro. O ponto de apoio da nossa gente simples que continua a viver com a mente fixa na manutenção de suas raízes de origem, identifica que nossa cultura não é uma simples fábula ou explicação de  um dito popular, mas  sim um todo específico em todas as categorias e formas de raciocínio: uma linguagem comum em cada expressão no que se refere  ao conteúdo das lembranças, do aprendizado e da memória.
O tempo que passei registrando nosso povo serve como síntese exemplar para definir os vários aspectos como realidade. Ser ou não ser é questão de querer. Manter uma tradição em todos os seus aspectos por tantos anos longe da Pátria de origem não é apenas conhecimento e sim sabedoria: é ser. Trabalhar para manter e amar essa tradição e senti-la como uma viagem dentro de nós mesmos é sinal que permite recontar as estações da vida. Tudo se sabe, porque viajar dentro de nós mesmos é revelação e querer.  Agradeço aos nossos sábios descendentes de emigrantes todos os valores que puderam ser recuperados, a elaboração dos conceitos, definições e intercâmbios que puderam render útil cada minuto de pesquisa.
Enquanto a ciência faz pesquisas olhando o horizonte possível, a vida nos obriga a repetir os gestos comuns e a aceitar os hábitos do dia-a-dia observando o horizonte real. O mundo, ou a Pátria Mãe, podem ou não aceitá-lo, podem mesmo continuar deixando de lado ou fazendo conta de não saber, mas existimos e somos uma comunidade. Acredito que a maior comunidade de emigrantes do norte italiano que soube manter vivos os  costumes, tradições e língua. E batalhar por isso, vivendo a cada dia esse valor histórico que nos honra mais que as simples palavras. A entidade tempo e espaço não nos atingiu. Pode às vezes se apresentar amarga, (isso se pode sentir a viva voz em cada gravação feita no interior da Serra Gaúcha, algumas entre descendentes de Treviso, em Cerquilho-SP) mas permitiu construir um mundo de experiências coletivas, com um amálgama de sabedoria ‘contadina’.  
Não todo o material descrito contém data, nome do executor e cidade, pois algumas foram feitas quando fazia pesquisas para colocar no espaço ‘Ciàcole’ do Jornal ‘ O Serafinense’ (1993 a 2008), mas grande parte das execuções foram gravadas e registradas pela Associazione Culturale Internazionale Soraimar com o patrocínio da Regione Veneto e  apoio do Governo do Estado do Rio Grande do Sul para todas as  escolas e bibliotecas da Regione Vêneto- Itália.
Podemos definir estas páginas como fragmentos que fizeram e fazem vidas.

A nossa Língua, que é a nossa identidade, antes de tudo é “Patrimônio Imaterial do Estado do Rio Grande do Sul”, Lei nº 13.178 sancionada em 10 de junho de 2009 pela então Governadora Yeda Crusius, aprovando o Projeto da já conhecida  ‘ Santola Del Talian’ – Madrinha do Talian, Sra. Silvana Covatti.

Em 13 de novembro de 2009, Serafina Corrêa com a Lei  nº2.615 do Sr. Prefeito Ademir Antonio Presotto, deu o chão para que pudéssemos andar e sentirmo-nos seguros: “"DISPÕE SOBRE A CO-OFICIALIZAÇÃO DA LÍNGUA DO TALIAN – VÊNETO BRASILEIRO, À LÍNGUA PORTUGUESA, NO MUNICÍPIO DE SERAFINA CORRÊA – RS."

Até o momento única cidade que tem a Língua Taliam como co-oficial.

Na esfera Federal, em 2010, o Decreto nº 7.387 que instituiu o Inventário das Diversidades Linguísticas como instrumento de identificação, documentação, reconhecimento e valorização das línguas que levam a referência à identidade, ação,  memória de diferentes grupos que formam a sociedade brasileira, sob a gestão do Ministério da Cultura se tornou a LUZ para os descendentes de imigrantes italianos: no dia 18 de novembro de 2014, na cidade de Foz do Iguaçú-PR, o Presidente da FIBRA ( Federação das Associações Ítalo-Brasileiras do Rio Grande do Sul), Dr. Paulo José Massolini, recebeu do Ministério da Cultura, o tão esperado Certificado –inédito- que reconhece a LÍNGUA TALIAN como ‘ Referência Cultural’, a primeira língua de imigração a ser reconhecida.

Podemos definir estas páginas como migalhas que fizeram e fazem vida. Páginas de luz que viveram por quase um século e meio entre palavras caladas e silêncios que hoje são nossas vozes.

Recolher as palavras como ilhas e no todo chegar a um continente que se chama TALIAN:

SERAFINA CORRÊA, agora CAPITAL NACIONAL DO TALIAN, CORAÇÃO  do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

Obrigada a todos. Luz!

Solange  Maria Soccol